Mais uma vez silêncio!
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
A Crise Ética na Contemporaneidade ou "Ado, aado, cada um no seu quadrado!"
No dia 26 estivemos em uma palestra no Espaço Cultural Maurice Valansi, sobre Ética na Contemporaneidade, ministrada pela psicanalista Daisy Justus (que não por acaso é minha analista). A apresentação de diversas questões presentes no nosso dia-a-dia, porém não necessariamente no nosso consciente, nos levou a pensar e a sair de lá discutindo sobre o assunto.
Conclusões ou respostas às perguntas que acabamos nos fazendo em relação ao nosso comportamento ético ou não ético não podem ser respondidas com certeza, como disse a própria Daisy: "Não pretendo responder às perguntas propostas e sim criar mais perguntas, para todos saírem daqui pensando, se perguntando sobre isso". As questões vão desde pequenas coisas que fazemos sem achar que vão repercutir em algum mal, mas que podem ter grandes consequencias em conjunto com outras pequenas ações como elas; até grandes problemas da sociedade moderna, como a corrupção, a abstinência política dos cidadãos e o conformismo coletivo que parece ter se abatido sobre a sociedade brasileira (obviamente com exceções).
Durante a palestra foi mostrado um trecho do filme "Cidade de Deus", destacando o personagem Buscapé, que tenta conseguir um emprego de fotógrafo em um jornal, mas vive cercado pela realidade que está nas capas dos jornais com manchetes sangrentas e trágicas. A escolha ética dele foi de não se envolver na criminalidade (tão próxima a ele) e procurar o caminho mais "difícil". Mas no meio do caminho ele se vê tendo uma escolha muito maior a fazer: entre sua vida posta em risco se denunciasse o envolvimento dos policiais com o tráfico, e sua carreira, se publicasse a foto-flagrante do crime no jornal em que trabalhava. Aí, o "menino ético" do filme entra na roda da sociedade que se abstém de certas atitudes para não sofrer as consequencias. Ele deixa de ser ético por isso? A ética do silêncio não deixa de ser anti-ético? Mas será que a ética da Cidade de Deus é a mesma que a nossa? Será que uma boa atitude no passado anula uma não-atitude no presente?
E qual a saída para essa massa populacional que na impossibilidade de encontrar uma solução para tantos problemas acaba se convencendo de sua incapacidade de mudança e se conformando com a realidade que não lhe agrada. E uma andorinha faz verão? Quantas andorinhas resistem à massa e continuam lutando com suas próprias forças? Como se juntar a elas? O que fazer? Essas foram as perguntas mais freqüentes no debate, o que mostra felizmente que essa massa não está tão arraigada quanto parece, ela só não sabe como mudar. A falta de líderes foi levantada como um problema. Será que precisamos deles? Ou será que o que precisamos mesmo são de exemplos, uma pessoa que “se permita” (expressão usada na palestra que diz tudo) fazer já pode servir de incentivo para outra e por aí vai. Mas será que é suficiente? E quem começa? ...
Mais uma vez silêncio!
Mais uma vez silêncio!
Ninguém precisa se atirar na frente de um tiroteio ou invadir o Planalto Central, todos podem começar aos poucos, com pequenas ações. Um exemplo que surgiu lá: uma senhora que estava estacionando o carro e atrás dela chegou outro motorista para parar, a guardadora comentou com ela que ali tinha uma rampa e ele tinha parado irregularmente. A guardadora falou com a pessoa que manteve o automóvel no local proibido. A mulher então atravessou a rua e avisou para um guarda que foi pedir para o sujeito tirar o carro, que o fez. Ela também acabou retirando seu carro com medo de alguma retaliação por parte do infrator. E o sentimento depois de ter talvez feito uma boa ação impedindo que o carro do outro atrapalhasse a passagem de um carrinho de bebês ou uma cadeira de rodas foi de medo.
Medo porque ela estava sozinha, disse outra participante do debate. Medo porque outras pessoas não fariam o mesmo e se calariam ao ver um absurdo desses, que por isso acaba deixando de ser absurdo aos olhos de alguns. Mas o medo neste caso é só um exemplo de que para sair da massa e reagir ao que nos incomoda tanto é preciso coragem, pois se fosse fácil não estaríamos tão acomodados imersos nesta inércia. Mas por isso vamos parar de tentar?
Mas como chegamos a este ponto? Preocupando-nos com os nossos próprios problemas como se os problemas de todo mundo não fossem também de cada um de nós. Só enxergando as coisas que dizem respeito a mim e esquecendo-se de quem está ao lado. Essa sociedade moderna que só vê o próprio umbigo abandonou a vida em sociedade. Será possível? O homem não é um ser sociável? É, mas é também quem canta “Ado, aado, cada um no seu quadrado!*”
* Citação brilhante da palestrane que sugeriu trocar o nome do tema de discussão para esta “brilhante” pérola da música brasileira
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